Greenwald acusa Moraes de abuso de poder na CSP
- Da redação

- 30 de mai.
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A Comissão de Segurança Pública (CSP) realizou nesta quarta-feira (30/4) uma audiência marcada por denúncias contundentes contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes. O jornalista Glenn Greenwald foi ouvido pelos senadores para comentar os áudios divulgados em 2024, que supostamente revelam o uso de assessoria do TSE pelo então presidente da corte para conduzir investigações informais, além de ações que, na visão do jornalista, configurariam abuso de poder.
Greenwald também trouxe à tona um vídeo divulgado em abril pelo jornalista português Sérgio Tavares, no qual Eduardo Tagliaferro, chefe da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação do TSE, demonstra receio de Moraes e fala sobre a possibilidade de deixar o Brasil devido às pressões.
Segundo Greenwald, Moraes cometeu abuso ao solicitar relatórios à sua assessoria, ordenar investigações com fins pessoais e ocultar que esses pedidos tinham origem no STF, no âmbito do chamado Inquérito das Fake News. Para o jornalista, Moraes mantém os poderes que tinha durante as eleições de 2022 e se tornou “a pessoa mais poderosa do país”. Ele destacou ainda que fontes do meio jurídico, embora criticando Moraes em conversas privadas, evitam manifestar críticas públicas por medo de represálias.
“Percebi que há muitas pessoas no mundo jurídico, especialistas na Constituição brasileira, que criticariam Moraes na privacidade. Quando perguntei se queriam se manifestar publicamente, muitas dessas pessoas influentes no Brasil disseram: “não consigo, tenho medo”. Elas têm medo... Quando comecei a denunciar Moraes, foi a primeira vez na minha vida que pensei: “vale a pena enfrentar esse risco”. O poder de censura que foi dado a Moraes foi inicialmente sobre a eleição de 2022, mas ele continua a usá-lo até hoje”, afirmou Greenwald.
O jornalista, conhecido por divulgar vazamentos de grande impacto internacional, destacou sua trajetória de exposições relevantes, como a vigilância ilegal da CIA e conversas entre procuradores e juízes na Operação Lava-Jato.
Novo vazamento e declarações de Tavares
Sérgio Tavares revelou que seu vídeo divulgado em abril é uma gravação telefônica entre Oswaldo Eustáquio Filho, blogueiro foragido, e Eduardo Tagliaferro, que desde 2023 não trabalha mais no TSE. A gravação, feita há oito meses, coincide com o início das matérias de Greenwald, em agosto de 2024. No final daquele mês, Moraes determinou a apreensão do celular de Tagliaferro.
No áudio, Eustáquio orienta Tagliaferro — que afirma estar sendo perseguido e teme por sua vida — a fugir para a Europa e divulgar informações sobre Moraes à imprensa internacional. Eustáquio é acusado de envolvimento na tentativa de golpe de Estado de janeiro de 2023 e atualmente está na Espanha.
“É um conteúdo gravíssimo, em que o “homem forte” de Moraes chora, diz que tem medo de ser morto, e afirma possuir provas para derrubar Moraes. Se ele não fugiu, foi por escolha própria. Esses oito meses sem nenhuma entrevista indicam que ele não quis falar. Creio que a divulgação desses áudios acelerou sua saída”, afirmou Tavares remotamente.
Embora Tagliafero não tenha comparecido à audiência, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) apresentou um áudio enviado pelo próprio convidado. No conteúdo, o ex-funcionário do TSE justifica sua ausência por questões pessoais e pela necessidade de preservar sua segurança, afirmando ainda que, no momento oportuno, estará à disposição da comissão para prestar esclarecimentos.
“Quando [Tagliaferro] afirma “eu tenho tudo para derrubar este cara, tenho todos os documentos”, como é que os grandes nomes que gostam de polêmicas e querem ser os primeiros a divulgar notícias continuam calados sobre esse áudio? Não consigo entender”, questionou Tavares, que em 2024 já havia comparecido ao Senado para esclarecer problemas enfrentados com a Polícia Federal ao desembarcar no Brasil para cobrir manifestações de apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro na Avenida Paulista.
Questionamentos sobre a imparcialidade de Moraes
Tanto Flávio Bolsonaro quanto Greenwald questionaram a imparcialidade do ministro na condução de investigações. Para o senador, o caso do Inquérito das Fake News revela uma atuação parcial, semelhante ao que ocorreu na Lava-Jato, quando o STF considerou Sergio Moro parcial devido às conversas que mantinha com procuradores.
“Não é que Moraes tenha uma relação direta com promotores ou investigadores. Ele acumula esses papéis. As conversas reveladas mostram sua indignação quando o investigador não consegue encontrar algo contra o alvo escolhido por ele. Ele diz: “use a criatividade”. Isso demonstra uma atuação claramente parcial”, criticou Flávio Bolsonaro.




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